terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Ciclismo urbano abre novos caminhos de negócios

Empresários faturam com a revenda de bicicletas, acessórios e diversos tipos de produto e serviço voltados para os amantes das bikes



 Filipe Redondo
Voltada para a customização, a Tag and Juice engloba ateliê de bikes, galeria de arte, butique de roupas e café
Cansado do trânsito caótico da cidade de São Paulo, Rene Fernandes decidiu substituir o carro pela bicicleta para percorrer o trajeto de casa até a Fundação Getulio Vargas, onde atua como gerente de projetos no Centro de Empreendedorismo e Novos Negócios (FGV-Cenn). Além de chegar mais rápido ao trabalho, Fernandes comemorou a economia de combustível – o consumo passou de um tanque de gasolina em duas semanas por um de álcool a cada três – e de estacionamento.

Com o trânsito crescente e a busca por um estilo de vida mais saudável, cada vez mais pessoas estão seguindo esse caminho e adotando a bicicleta como meio de transporte e de exercício. Com essa mudança de hábito, cresce um segmento de negócio: o de produtos e serviços relacionados ao ciclismo.

De acordo com o diretor executivo da Associação Brasileira dos Fabricantes e Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e similares (Abraciclo), Moacyr Alberto Paes, as ciclofaixas que funcionam nos finais de semana são uma das grandes responsáveis pelo aumento do número de ciclistas e novas marcas ligadas ao setor. “As ciclovias e rotas preferenciais são uma ótima oportunidade para despertar nas pessoas o interesse pela bicicleta e fazer com que experimentem benefícios como a economia de recursos e a qualidade de vida”, afirma.

Revenda de bikes, produção e distribuição de acessórios e serviços de manutenção e customização são alguns dos negócios que estão surgindo e crescendo com esse interesse da população pelo ciclismo. De acordo com Rene Fernandes, antes de investir nesse mercado, é fundamental entender as necessidades consumidor. “O ideal é se especializar em um tipo de ciclismo ou, se quiser atingir um público mais abrangente, conhecer bem a demanda de seus clientes e apresentar soluções.” Segundo ele, as grandes lacunas no mercado nacional de bicicletas são um e-commerce forte, que traga produtos importados e de melhor qualidade para os ciclistas brasileiros, e o aluguel de bikes próximo a estações de trem e metrô. A customização também se apresenta como uma boa oportunidade de negócio.

A paulistana Tag and Juice, dos sócios Billy Castilho e Pablo Gallardo, é um dos estabelecimentos que embarcou nessa oportunidade. Antes de entrar para o mercado de ciclismo, a dupla já trabalhava com arte e design. A loja herdou essas características e engloba ateliê de bikes, galeria de arte, butique de roupas e café. “Não vendemos só um produto, mas um conceito, um estilo de vida”, afirma Castilho. Para Gallardo, o ciclista urbano é antenado em questões como sustentabilidade e bem-estar, além de ser preocupar em alternativas para tornar a sua cidade melhor.

Na loja, entusiastas e amantes do ciclismo, artes plásticas, música, gastronomia e cultura urbana podem encomendar bikes exclusivas, inspiradas nos anos 1920 e personalizadas conforme cor, modelo, tamanho e tipo de material. O serviço de montagem é terceirizado, e as bicicletas, vendidas por a partir de R$ 3.000, representam quase metade do faturamento total. Desde 2010, ano em que começou a funcionar, a empresa teve crescimento de 40% na receita. “A busca por bikes é algo natural, que vem crescendo não só em São Paulo como em várias cidades do país. As pessoas estão percebendo a necessidade de aproveitar a vida com mais consciência, saúde e diversão”, afirma Gallardo. 
Serviços agregados
Segundo a Abraciclo, do total de bikes vendidas no Brasil, cerca de 50% é voltada para a locomoção e transporte, 32% para o público infantil, 17% para recreação e lazer, e apenas 1% para competição. Para o diretor executivo da associação, antes as bicicletas eram mais comuns em regiões do interior, periféricas e litorâneas. Agora, elas também estão alcançando as principais capitais do país e consumidores de alta renda. “A bicicleta surge como solução para problemas de transporte dos grandes centros urbanos.” De acordo com Paes, a questão da mobilidade urbana é um dos grandes atrativos e apostas de crescimento no setor.

Jorge Blanquer
Há dois meses, a Ciclo Urbano ganhou um espaço físico, onde passou a intensificar a venda de bicicletas importadas
Foi com essa proposta que os empresários Leandro Valverdes e Mário Canna criaram, há dois anos, a loja virtual Ciclo Urbano Bicicletas. Com um investimento inicial de R$10 mil, os sócios trabalhavam, principalmente, com a revenda de acessórios para ciclistas de rua, como para-lamas, bagageiros e cubos. Após conhecer melhor os consumidores e fornecedores, e ir “sentido o mercado”, os empresários decidiram abrir um espaço físico, onde intensificaram a revenda de bicicletas importadas para pedaladas no asfalto, que custam a partir de R$ 1.000, e passaram a oferecer serviços de manutenção e revisão.

Há dois meses, a Ciclo Urbano faz parte da Ciclo Vila, espécie de joint venture que engloba outras três empresas no mesmo estabelecimento comercial, localizado em um sobrado de cerca de 120 m² na Vila Olímpia, em São Paulo – região bastante movimentada, próxima a ciclofaixas e edifícios empresariais. Além da Ciclo Urbano, lá também funcionam a Giro Courier, especializada em serviços de entrega com bicicletas; a Bike Forever, grife de roupas e artigos de decoração e design; e o café gourmet Manti. Na Ciclo Vila, os oito sócios dividem as despesas e multiplicam a rede de contatos e de clientes. “Embora cada empresa tenha autonomia e funcione separadamente, uma acaba complementando a outra”, afirma Valverdes. Com a recente criação da loja física, a Ciclo Urbano já obteve um crescimento de 50% no faturamento total.

Desde a fundação da empresa até hoje, os empresários notaram um maior equilíbrio entre os gêneros e um alargamento da faixa etária de seus clientes. Também observaram uma crescente demanda por produtos femininos e infantis. “Optamos pelo diferente. Focamos um nicho de produtos voltados para o lazer e a mobilidade urbana e criamos uma identidade para a nossa empresa”, conta Valverdes. “Seja para o lazer como para o transporte urbano, percebemos que é um mercado claramente aquecido, com uma procura por produtos que só tende a crescer.”

Há 15 anos no mercado, a loja e oficina Gigabike, de Antonio Hadlich, comprova o crescimento do mercado por meio de sua trajetória bem-sucedida. A empresa começou com um pequeno quiosque dentro do shopping Via Parque, na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro (RJ). Pouco tempo depois passou a funcionar dentro de um posto de gasolina e, hoje, a Giga Bike conta com uma loja maior com acesso tanto pela parte interna como externa do Barra Shopping. “Conseguimos um ponto estratégico, voltado para o estacionamento, onde os clientes podem entrar e sair com suas bicicletas”, afirma Hadlich.

A Giga Bike também conta com uma loja virtual, criada há dois anos, que atrai cerca de 20 mil visitantes únicos por mês. O volume de vendas ainda é maior no espaço físico. Com um faturamento mensal de R$ 200 mil, a Giga Bike comercializa mais de 100 bicicletas por mês – 70% nacionais e 30% importadas –, que equivalem a 65% do faturamento total da empresa. “Nos últimos dois anos, nosso faturamento dobrou”, conta Hadlich. Em outubro de 2012, será inaugurada outra unidade da loja, no ParkShopping Campo Grande, no Rio de Janeiro.
Marvio Arêde
O serviço de busca e entrega de bicicletas para conserto é o diferencial da Bike Care
A também carioca Bike Care, de Jorge Luiz Ferreira, teve aumento de 200% no faturamento nos últimos dois anos. A empresa foi criada em 2009 e vende bicicletas, acessórios e peças, além de realizar serviços de manutenção e reparos e alugar bikes em parceria com hotéis da cidade. “O nosso grande diferencial é o serviço de busca e entrega de bicicletas para consertos”, conta Ferreira.
Segundo ele, a procura por bikes para transporte vem aumentando, mas as bicicletas para lazer continuam o forte da empresa. Em janeiro de 2012, a Bike Care vai lançar um site voltado para o e-commerce, com o objetivo de alcançar clientes de outras cidades e estados. “Apesar de muito antigo, o mercado de bicicletas é o futuro. Portanto, seja inovador.”


Fonte: PEGN e Roda Livre

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