quinta-feira, 18 de abril de 2013

Cicloturista e historiador, Nelson Neto explora à América do Sul

Olha o que saíu no Globo Esporte da Amazônia....


O que um historiador e a bicicleta podem ter em comum? Muita coisa. Nelson Neto que o diga. Nascido em São Paulo, ele se mudou para o interior paulista na infância onde passou a utilizar a bicicleta como meio de transporte, mas sem ter a noção da importância em se adquirir um meio de vida sustentável. Hoje, aos 27 anos, graduado em história, ele explora à América do Sul com sua 'magrela', conhece novas culturas e, detalhe, financia suas próprias viagens e está longe de ser um milionário.
Não seria absurdo chamar o paulistano de nômade. Além de morar no interior, também passou parte de sua adolescência em Foz do Iguaçu e cursou faculdade na cidade de Marechal Cândido Rondon, ambas no Paraná. Nos últimos 14 meses, antes de iniciar seu roteiro, morou em Florianópolis (SC).  Atualmente está ha mais de oito meses longe da família e dos amigos depois de, por conta própria, investir nesse sonho. Um projeto ambicioso, mas feito com muita cautela e sacrifício.
Nesta semana, Nelson Neto chegou a cidade de Manaus, no Amazonas, antes de seguir viagem rumo ao Estado do Pará. Em conversa com o GLOBOESPORTE/AM, o cicloturista relembrou as dificuldades para iniciar a tão sonhada viagem, falou sobre a experiência em conhecer inúmeras culturas e não esqueceu os 'dramas' vivenciados ao lado da sua bicicleta.
Nelson Neto Cicloturista (Foto: Nelson Neto/ Arquivo Pessoal)Nelson Neto já rodou 14 mil quilômetros com sua mountain bike  (Foto: Nelson Neto/ Arquivo Pessoal)
Da produção do supermercado a desbravador da América
Íntimo da bicicleta desde criança, Nelson Neto colecionou amigos que partilham do mesmo hábito: pedalar. Não por acaso, com um grupo de amigos ciclistas, no final de 2007, fez sua primeira viagem internacional e passou por Chile, Argentina e Paraguai. Foram 17 dias longe de casa. A saudade aumentou, mas o dinheiro encurtou. Daí em diante, sabia que se quisesse se tornar uma espécie de 'ciclo-explorador' teria que garantir com antecedência os recursos, já que nunca dispôs de patrocínio.
- Minha primeira viagem internacional foi ao Chile. Viajei com um grupo de ciclistas. Foi tudo muito interessante,  passamos pelo Paraguai e Argentina para chegar até lá (Chile). Mas ninguém viajou com patrocínio ou algo do tipo e, nesse momento, mais de duas semanas fora de casa, senti algumas dificuldades. Daí em diante sabia que teria que me programar melhor em prol do cicloturismo e do meu sonho - contou.
Já formado em história (terminou o curso em 2010) foi para Santa Catarina. Em Florianópolis conseguiu emprego na área de produção da panificadora de um supermercado, e por lá ficou durante 1 ano e dois meses. Um local em especial foi responsável pelo sacrifício: Machu Picchu, também chamada de 'cidade perdida dos incas', no Peru.
- Cheguei a trabalhar em período duplo, em dois empregos. Juntei o máximo de dinheiro possível para fazer a viagem. Não foi fácil - lembrou.
Com um guia da América do Sul em mãos, estudava os locais por onde poderia passar e unir o útil ao agradável: pedalar com sua mountain bike e explorar culturalmente cada metro quadrado fora do Brasil. No dia 9 de julho de 2012, tendo o dinheiro suficiente na conta e administrado pelos pais, Nelson Neto voltou a Foz do Iguaçu - residência da família-  e iniciou sua trajetória ao melhor estilo Indiana Jones. Partiu em direção ao pantanal mato-grossense, e depois passou pela fronteira com a Bolívia. Sozinho, sabia que poderia encontrar de tudo ao longo da jornada. Só coisas boas vieram. Depois da Bolívia visitou o Peru, Equador, Colômbia e Venezuela, até retornar a solo pátrio na cidade de Boa Vista (RR).
Nelson Neto Cicloturista (Foto: Nelson Neto/ Arquivo Pessoal)Roteiro começou em julho de 2012. Foram oito meses
fora do Brasil (Foto: Nelson Neto/ Arquivo Pessoal)
O tempo de permanência em cada cidade ou país varia de acordo com vastidão cultural que à localidade apresenta. Em algumas regiões ficou três dias, em outras mais de uma semana. Até o momento foram 14 mil quilômetros percorridos. Oito meses fora do território nacional, onde desfrutou de muita hospitalidade e carinho dos 'hermanos'.
Se Machu Picchu era o sonho, o cicloturista não negou que guardou do povo boliviano um sentimento especial. Um episódio foi marcante para o historiador.
- Sempre andei com pouco dinheiro em espécie, e meus pais eram os responsáveis por repassar uma determinada quantia sempre que eu necessitava de algo. Cheguei em um pequeno vilarejo, na Venezuela, e fui até o banco local. Já estava fechado. Contei minha história para a gerente do hotel e disse que pagaria a hospedagem no dia seguinte. Ela permitiu que ficasse, mas, no dia seguinte, quando fui ao banco, não havia caixa eletrônico e não podia sacar o dinheiro. Quando fui explicar, ela ainda perguntou quanto eu precisava para seguir com minha viagem. Preocupada e generosa. Tive que explicar que não queria o dinheiro e só estava justificando o motivo de não ter como pagá-la. Isso eu nunca vou esquecer - lembrou emocionado.
Para ele, a bicicleta é ''algo mágico'' e isso se comprovou em situações mais delicadas, como em meio a protestos e manifestações. Fato que ocorreu mais de uma vez, mas sempre com passagem livre para a bicicleta.
- Era impressionante. Por mais que as pessoas estivessem exaltadas, nervosas, poderia existir a barreira que fosse, sempre que avistam eu e a bicicleta me deixavam passar com muita naturalidade. Eu sempre digo que a bicicleta é mágica. É algo mágico. Isso só se confirmou - emendou ele, que também reforçou a preocupação das pessoas com sua segurança sempre o alertando sobre cidades ou vilarejos mais desertos e perigosos.
Self-service 'salvador'
Como se alimentava de forma moderada para poupar despesas, Nelson Neto também conviveu com o problema da balança. Chegou a perder 8 kg em uma semana, e ganhou 5kg na semana seguinte. Bolívia e Peru, gastronomicamente, foram considerados ''muito bons'', mas boa parte do seu  dinheiro, inflacionado pelo mercado negro na troca pelas moedas locais, fez com que tivesse que poupar o máximo possível. Se comia pouco, passou a comer ainda menos. Só o retorno ao Brasil permitiu que a 'ousadia' no garfo e faca voltasse.
- Na Bolívia e no Peru a comida era muito boa, mas pouca. E eu pedalo cerca de 10 ou 12 horas por dia. Já imaginou você subindo a Cordilheira dos Andes? Parece uma escalada sem fim.  Nesse período cheguei a perder 8kg, mas fiquei, na semana seguinte, em Bogotá, fiquei hospedado com uma família. Engordei 5 kg. Mas, só explorei o sel-service aqui no Brasil - brincou o cicloturista que, dentro de três meses deve retornar a Foz do Iguaçu.
Roteiro final
De volta ao Brasil, Nelson Neto terá mais 7 mil quilômetros pela frente. Depois de explorar a América do Sul, ele tem como objetivo passar por toda a região norte e descer todo o litoral nordestino até chegar em Foz do Iguaçu. Serão mais três meses de dificuldades e aventuras. Mas, acima de tudo, a concretização de um sonho.
Para mais informações sobre a viagem acesse o site do blog Cicloturismo Selvagem.

Confira a reportagem que fizeram na TV Cultura em Manaus...

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